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Pacientes acamados em Teresina ficam sem alimentação enteral há dois meses; famílias denunciam risco à vida

Divulgação

A falta de alimentação enteral e de outros insumos essenciais fornecidos pela Fundação Municipal de Saúde (FMS) tem deixado pacientes acamados em Teresina sem assistência há mais de dois meses, segundo relatos de familiares. O problema afeta diretamente pessoas que dependem de dieta específica e cuidados contínuos, como troca de sondas e materiais de higiene e curativo.

A FMS afirma que os itens em falta estão em processo de aquisição através de licitações, dispensas e empenhos, e que o fornecimento de alimentação enteral está regular “conforme o abastecimento pelos fornecedores”. A nota completa pode ser lida ao fim desta matéria.

Famílias denunciam abandono e custos elevados

O pedreiro Jonas Teixeira Mourão cuida da irmã, acamada há dois anos e diagnosticada com a síndrome de Arnold-Chiari. Ela depende exclusivamente da alimentação enteral, que não é entregue pela FMS desde 12 de setembro.

“Em Teresina, são mais de mil acamados. Só pela FMS são mais de 650 cadastrados que recebem alimentação enteral. Mas isso está complicado. Minha irmã está sem receber a dieta desde 12 de setembro. Hoje precisei comprar uma caixa. A gente compra pouco porque não tem condições de arcar com o mês todo”, relatou.

Com dificuldades financeiras, Jonas diz gastar entre R$ 1.000 e R$ 1.200 por mês apenas com alimentação enteral, sem incluir fraldas e materiais de curativo.

Além do atraso na entrega da dieta, ele denuncia falta de suporte para a troca de sondas, procedimento fundamental para evitar infecções e complicações:

“A sonda deve ser trocada a cada seis meses. A da minha irmã já tem um ano e quatro meses. Os hospitais ficam encaminhando para outros locais e nada se resolve. O acamado vai se debilitando.”

“É impossível manter”: outra família relata abandono

A autônoma Helena Medeiros vive situação parecida ao cuidar da mãe e da tia, acamada há seis anos após um AVC severo. Ela conta que o fornecimento da dieta enteral está suspenso há dois meses.

“A última entrega foi em 12 de setembro. Ela precisa de 32 litros por mês e, com um salário mínimo, é impossível manter. Ainda tem as despesas de higiene. É muito difícil.”

Helena alerta sobre o risco de substituição da dieta por outros alimentos:

“Orientam a introduzir outro tipo de alimentação, mas como fazer isso com alguém que usa só dieta enteral há seis anos? Há risco de infecção e internação.”

Ela também reclama da distribuição irregular e insuficiente de senhas.

“Às vezes chegam 20, 25 senhas. Quem mora perto consegue pegar, mas muitos ficam sem. Mesmo reclamando, dizem apenas para esperar. Dei entrada no mês passado e informaram que eram 17 dias para avaliar o grupo. Até agora, nada.”

Nota da FMS

A Fundação Municipal de Saúde (FMS) informou:

“Os insumos em falta estão em processo de aquisição, por meio de processos de licitação, dispensa e emissão de empenhos em trâmite. Todas as medidas estão sendo tomadas para que a situação seja normalizada o mais breve possível. Quanto à alimentação enteral, a FMS informa que o fornecimento se encontra regular e é feito conforme o abastecimento pelos fornecedores.”