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Papa Leão XIV critica “bolha de luxo” dos ricos e pede amor concreto aos pobres em primeira exortação apostólica

Foto: Instagram Oficial/Vatican Media

O papa Leão XIV fez duras críticas à desigualdade social e ao modo de vida das elites em sua primeira exortação apostólica, publicada nesta quinta-feira (9). No documento intitulado “Dilexi Te” (“Eu te amei”, em latim), o pontífice condena o afastamento dos ricos da realidade da maioria da população mundial, que vive em condições precárias.

“Num mundo onde os pobres são cada vez mais numerosos, assistimos, paradoxalmente, ao crescimento de uma elite abastada, vivendo numa bolha de conforto e luxo, quase num outro mundo em comparação com as pessoas comuns”, escreveu o papa.

A exortação, de 49 páginas e dividida em 121 pontos, foi assinada por Leão XIV no dia 4 de outubro, data em que se celebra São Francisco de Assis — uma dupla homenagem ao seu antecessor, o papa Francisco, que morreu em abril deste ano e havia iniciado a redação do texto.

Apelo por empatia e transformação social

Mantendo a linha pastoral de Francisco, Leão XIV destacou a necessidade de colocar o amor aos pobres no centro da missão da Igreja. Ele defendeu uma mudança profunda de mentalidade em relação aos marginalizados e denunciou “a cultura que descarta os outros” e as estruturas econômicas que perpetuam a exclusão.

“Devemos nos comprometer cada vez mais para resolver as causas estruturais da pobreza”, afirmou.

O papa também lembrou que, segundo o Banco Mundial, cerca de 8,5% da população global vivia com menos de US$ 2,15 por dia em 2024 — o equivalente à linha da pobreza extrema.

Críticas à economia global e à hipocrisia religiosa

O pontífice voltou a denunciar “a ditadura de uma economia que mata” e a “tirania invisível dos mercados financeiros”, convocando os fiéis a fazerem “ouvir uma voz que desperte e denuncie”. Ele também fez um alerta contra a hipocrisia dos cristãos que “se deixam contagiar por ideologias mundanas” e esquecem o verdadeiro sentido da caridade.

“Quando a Igreja se ajoelha ao lado de um leproso, de uma criança desnutrida ou de um moribundo anônimo, ela cumpre sua vocação mais profunda: amar o Senhor onde ele está mais desfigurado”, escreveu o papa.

Imigrantes e tragédias humanitárias

Em outro trecho, Leão XIV reafirma o compromisso da Igreja com o acolhimento dos imigrantes, lamentando que naufrágios e mortes no mar sejam tratados como “notícias marginais”. O papa recordou ainda a imagem do menino sírio Alan Kurdi, encontrado morto em uma praia do Mediterrâneo em 2015, símbolo da crise humanitária dos refugiados.

Com “Dilexi Te”, o papa Leão XIV reforça a continuidade da agenda social e humanista de Francisco, defendendo uma Igreja comprometida com os pobres, a justiça social e a dignidade humana em um mundo marcado por desigualdades profundas.