Frigoríficos de Mato Grosso do Sul interromperam temporariamente a produção de carne bovina destinada aos Estados Unidos após o anúncio da aplicação de uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros, feito pelo ex-presidente e pré-candidato republicano Donald Trump. A informação foi confirmada pelo governo do estado e pelo Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de MS (Sincadems).
Segundo o vice-presidente do Sincadems, Alberto Sérgio Capucci, a suspensão tem caráter logístico e visa evitar o acúmulo de estoques de carne que, com a nova taxação, se tornariam inviáveis de serem comercializados no mercado americano. “A produção continua normal para os demais mercados. O foco da paralisação é exclusivamente nos produtos destinados aos Estados Unidos”, explicou Capucci.
De acordo com o sindicato, pelo menos quatro unidades industriais suspenderam os abates voltados ao mercado americano: JBS, Naturafrig, Minerva Foods e Agroindustrial Iguatemi.
A decisão das empresas reflete os impactos imediatos da nova política tarifária anunciada por Trump, que encareceu significativamente a entrada de carne brasileira no mercado norte-americano. Com isso, a viabilidade financeira das exportações foi comprometida, salvo se houver uma reavaliação da medida ou negociações bilaterais entre os governos.
O secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, Jaime Verruck, afirmou que os frigoríficos suspenderam os abates para evitar prejuízos e que o acúmulo de estoques estagnados já preocupa empresários e o próprio governo do estado.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) também se manifestou e confirmou uma redução significativa no fluxo de produção voltada ao mercado norte-americano. Em nota oficial, a entidade explicou que o setor ainda está avaliando como redirecionar as cargas e a produção já planejadas para os EUA.
Leia a íntegra da nota da Abiec:
“Faz poucos dias que recebemos essa notícia, e o setor está tentando entender como deve atuar para reescalonar e redirecionar as cargas e a produção. O fato é que as indústrias brasileiras já decidiram pausar temporariamente a produção destinada aos Estados Unidos. Houve uma redução significativa no fluxo de produção da carne específica voltada ao mercado norte-americano.
O rearranjo está sendo feito com novos parceiros que buscamos intermediar ao redor do mundo, com possibilidades de novas aberturas de mercado. Mas, de forma imediata, esse redirecionamento ocorre para países com os quais já mantemos exportações. Obviamente, China, Sudeste Asiático e Oriente Médio são os destinos mais evidentes nesse momento em que os Estados Unidos, eventualmente, não poderão receber essa carne.
As indústrias, de fato, reduziram bastante a produção voltada aos Estados Unidos. Essa é a realidade. Estamos um pouco apreensivos quanto ao que pode acontecer. Por isso, aguardamos o avanço das negociações governamentais, enquanto, no setor privado, atuamos com os importadores e com as empresas brasileiras para entender de que forma também podemos contribuir para influenciar o governo americano a rever essa decisão em relação aos produtos brasileiros. Essa tem sido a nossa atuação no dia de hoje.”
O setor aguarda, agora, uma possível reavaliação por parte das autoridades norte-americanas, enquanto trabalha para manter os níveis de produção redirecionando os embarques a outros mercados estratégicos já consolidados.